Onde o sol se fez
sol.
Quando o coração se manifesta é o
momento de abrir a janela interna,deixar escapar
os anseios, os medos, as
aspirações.
Numa dessas manifestações, decidi
ouvi-lo e junto com a família tomar uma decisão,
mudar. A mudança, talvez seja
a primeira reação para sair de uma situação estática.
Vendemos a casa em que morávamos
e conseguimos comprar outra. A casa nova,
bem mais simples, más com uma vista
de encher os olhos. Muito verde, uma casa rural.
Adquirimos novos hábitos. Acordar
cedo com a melodia afinada de vários pássaros,
tomar o café da manhã com vista
para o vale, caminhar pela redondeza sentindo
o cheiro de pinho, acompanhar a
vida das maritacas e dos sagüis. Tudo isso num
pacote de fim de semana. De
segunda a sexta a rotina de trabalho nos tira desse
encantamento.
Descobri que é possível falar com
Deus. No banco instalado estrategicamente
no jardim para apreciar o por do sol
é possível elevar o espírito a uma graça máxima.
É permitido cochichar com as
borboletas e contar segredos ao jasmim que
envolve o caramanchão.
O sol aos poucos se despede
estonteantemente vermelho.
Estou me especializando em adubos
orgânicos, inseticidas naturais para combater
as pragas.
A macieira está com flores, sinal
de muitas frutas, a manga, a jabuticaba, nêspera,
lichia, laranja, que pomar!.
Perdemos com o tempo a percepção
do cheiro de terra molhada. Que previsão do
tempo que nada, é possível saber se
vem chuva pela posição da lua, pela cor das
nuvens, pelo agito dos pássaros ou
até mesmo pela direção do vento.
Só não consigo ainda, perceber o
meu limite de paciência nesse mundo maluco
extra casa.
Comecei a perceber os diferentes
tons de verdes.
Criamos rituais diários que nos
fortalecem. Pedir que a virgem Santa nos cubra
com o seu manto azul, repetir
orações em forma de mantra.
Amassar a massa de um pão e
canalizar energias positivas, assar e degustar
a mais fina iguaria como se
fosse dos Deuses.
Preparar uma carne, temperar,
colher temperos na horta e especializar-se nos
sabores e odores.
Descobrir o jambolão, a lichia, a
laranja Kinkan. Pensar em possibilidades, saídas.
Fanny Fischer